Autora - Carla Madeira
Nacionalidade - Brasileira
Editora - Record
Gênero - Romance
Páginas - 240
Ano - 2022
ISBN - 9786555872231
Classificação - ⭐⭐⭐⭐⭐❤️
Sinopse - "'O que você não tem mais que te entristece tanto?' É com esta pergunta que Biá, uma psicanalista aposentada, apaixonada por literatura, aborda a jovem jornalista Olívia pela primeira vez ao encontrá-la sentada à mesa de um sebo improvisado. A provocação inesperada, vinda de uma estranha, capaz de ouvir “como quem abraça", desencadeia uma sucessão de encontros, marcados pela intimidade crescente e que aos poucos revelam as histórias das duas mulheres. 'Nossa amizade começou assim, enquanto nos afogávamos', relata Olívia.
Com alternância entre as vozes, a força narrativa objetiva, descritiva e linear de Olívia contrapõe-se às anotações esparsas de Biá, cujos fragmentos de uma memória já falha e pouco confiável conduzem a um ponto de virada na trama que irá revelar ao leitor eventos que marcaram o passado de cada uma, evidenciando o paralelo entre as diferentes formas de abandono sofridas (e perpetradas) pelas duas amigas. Ao conhecer Olívia, o leitor é preparado para compreender Biá e, finalmente, refletir sobre a pergunta: o que faríamos em seu lugar?
Como nos outros romances da autora, as personagens parecem saltar do papel para colocar o leitor diante de questões universais, entre elas a incondicionalidade do amor, a força do desejo, a culpa e o esquecimento, a memória e sua dinâmica inescrutável com o perdão. É também um livro sobre amizade.
Com uma narrativa singular, potente e envolvente, Carla Madeira se reafirma em A natureza da mordida como um dos maiores nomes da literatura nacional contemporânea."
"A saudade de quem não soube ficar junto enquanto podia ter ficado, a saudade de não ter dúvidas sobre o amor."
Já sentiu que de alguma forma a vida está te devorando a mordidas? E muitas dessas mordidas são extremamente dolorosas e inevitáveis...
"Minha loucura é meu corpo em conflito. Ou calo. Ou falo."
Ler Carla Madeira é mergulhar em um mar de reflexões. É perceptível o cuidado e o trabalho com as palavras em sua escrita, e eu amo isso! Quando li "Tudo é Rio", lembro que não conseguia parar de ler, a minha vontade era terminar o livro o mais rápido possível. Já em "A natureza da mordida" foi diferente, a narrativa pede calma ao leitor, precisei de tempo para processar as palavras e degustar todas as sensações que me despertou.
"Não vem da morte minha aflição. A morte é mais leve do que uma pluma. Já a responsabilidade de viver é mais pesada do que uma montanha."
Conforme a leitura avança, conhecemos a história de duas mulheres distintas que se encontram e se unem e se identifcam pela dor da ausência. Olívia, com a força da juventude, é direta e objetiva em sua narração, intercalando com as esparsas anotações de Biá, uma senhora sábia, mas já com a memória falha. A vontade de conversar e trocar experiências aumenta a intimidade entre as duas mulheres e a trama vai ganhando corpo, revelando o passado e os paralelos da vida das duas.
"Viver ao lado de uma pessoa ferida, irremediavelmente distante, é como ter uma dor que não te deixam esquecer."
Terminei o livro querendo muito dividir um bolo de laranja quentinho com Olívia e Biá. Abraçá-las e agradecê-las.
"Só as mulheres sabem o que é ter um ventre. Um entre. Um fique até estar pronto. Um se alimente de mim."
Com certeza, umas das minhas melhores leituras de 2024. 🥰
"São alegrias das quais não quero me desfazer. Fossem só dor nossas lembranças, nos desapegaríamos. Mas, entranhadas nelas, resistem as pequeninas e ensolaradas ilhas sabotando todo um mar de motivos para esquecer."
"Sabe o que aprendi sobre o amor? Que nem sempre ele ouve quando chamamos. É uma deficiência progressiva causada por vagas distâncias e grandes medos. Medos ensurdecedores que nos levam a situações em que deveríamos apenas nos deixar paralisar. Parar tudo. Deixar apenas o tempo em movimento. Nem respirar deveríamos. Muito menos partir. Foi por ignorância que me tornei histérica, gritei o quanto pude, mas o amor estava surdo, encolhido, atolado em impotências. Não pode me ouvir. Sei que ele estava lá, Teo, sempre esteve entre nós, nunca se afastou. Nunca nos faltou. Podíamos ter confiado, teria bastado nosso amor para não nos faltar virtude. Tivemos pressa."
"O mal não é coisa de distraído. Embora a dor a gente possa provocar até dormindo."
"Quero outra palavra para tudo isso, Teo. Outra palavra para nomear a dor que se sente ao se amar fracassadamente demais. 'Ador', é assim que vou chamá-la. Amor e ador, ambas com quatro letras, para que não haja dúvidas do quanto se alinham em óbvia simetria."
"Saber é sempre um ponto de partida. Não saber é ficar enternamente presa a um fim. Um fim que não acaba."
"É ilusão achar que o amor suporta qualquer quantidade de caos."
Beijos, um ótimo voo a todos e até a próxima!📚
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