Título - K: relato de uma busca Autor - Bernardo Kucinski Editora - Companhia das Letras Gênero - Romance histórico Páginas - 176 Local - São Paulo, 2014 ISBN - 978-85-438-0648-8 Classificação - ⭐⭐⭐⭐⭐
Sinopse
"Em 1974, a irmã de Bernardo Kucinski, professora de Química na Universidade de São Paulo, é presa pelos militares ao lado do marido e desaparece sem deixar rastros. O pai dela, dono de uma loja no Bom Retiro e judeu imigrante que na juventude fora preso por suas atividades políticas, inicia então uma busca incansável pela filha e depara com a muralha de silêncio em torno do desaparecimento dos presos políticos. K. narra a história dessa busca. Lançado originalmente em 2011 pela editora Expressão Popular, em 2013 ganhou nova edição pela Cosac Naify, e finalmente, em 2016, chegou à Companhia das Letras. Ao longo desses anos, K. se firmou como um clássico contemporâneo da literatura brasileira."
Este mês, organizei com mais duas amigas leitoras, uma maratona literária de nacionais, a Nacionatona. Selecionamos vários desafios para os participantes, um deles era: "ler um livro com título que comece com a letra do seu nome". Livro nacional com a letra K foi difícil de achar, mas uns amigos encontraram alguns e acabei escolhendo "K.: relato de uma busca". Confesso que não esperava muito do livro, mas dei com a cara na parede. Me surpreendi com a história e com a escrita do autor, e fiquei até brava comigo mesma por ter demorado tanto para conhecer as obras do Kucinski!
Mas chega de enrolação e vamos à resenha. O autor já começa assim: "Tudo neste livro é invenção, mas quase tudo aconteceu." Gosto muito quando os escritores aproveitam a ficção para relatar muitas verdades. E em "K.: relato de uma busca" é exatamente isso que acontece, pois Kucinski mistura sua história de vida, como sua experiência política e o desaparecimento da sua irmã, com a ficção. K., protagonista, além de dar nome ao livro, também faz alusão ao sobrenome do escritor.
K. é um senhor de idade, judeu, polonês e imigrante brasileiro. Ao receber cartas do banco em nome da sua filha morta há mais de três décadas, resolve contar sua história e diminuir um pouco o "mal de Alzheimer" nacional sobre esse período sombrio.
"O carteiro nunca saberá que a destinatária não existe; que foi sequestrada, torturada e assassinada pela ditadura militar"
Ao perceber o desaparecimento de sua filha, professora de química da USP, K. começa uma batalha incessante por seu paradeiro. As pistas surgem e desaparecem como fumaça, e aos poucos vamos conhecendo as entranhas de um monstro que devastou várias famílias. O Estado acaba se tornando o maior inimigo de K. "O Estado não tem rosto nem sentimentos, é opaco e perverso. Sua única fresta é a corrupção. Mas às vezes até essa se fecha por razões superiores. E então o Estado se torna maligno em dobro, pela crueldade e por ser inatingível."
A dor do desaparecimento é um buraco sem fim. Afinal, na morte não existe a agonia da incerteza. É preciso ser forte para acompanhar o sofrimento de um pai em busca de seu bem mais precioso. O autor intercala o desespero de K. com descobertas sobre a vida da filha, conversas entre torturadores, depoimentos de pessoas que foram usadas como engrenagem na máquina defeituosa que foi o regime militar e textos de jornais e atas. Colocado assim, parece que a história fica bagunçada, mas, pelo contrário, o autor conseguiu exprimir em poucas páginas toda dor contagiante de K. em um passado obscuro.
"O pai que procura a filha desaparecida nunca desiste."
Os desaparecidos políticos foram homenageados nomeando quarenta e sete ruas (infelizmente em um fim de mundo), com o intuito de lembrar às futuras gerações a importância da democracia e dos direitos humanos. O problema, como vocês sabem, é que também vemos nomes de golpistas, corruptos, torturadores e bandidos espalhados por avenidas, pontes e viadutos importantes por todo o Brasil como se fossem benfeitores da humanidade.
"O problema, reflete K., é quando o personagem é herói para uns e vilão para outros."
Com uma escrita simples e clara, Kucinski tenta reduzir um esquecimento programado de um dos períodos mais terríveis da história brasileira.
Se você ainda não leu esse livro, por favor, leia! É forte, mas as vezes precisamos de um soco no estômago pra ficar sem ar e no minuto seguinte inalar com força mais conhecimento!
Vou ficando por aqui...
Beijos, um ótimo voo a todos e até a próxima. 💖📚
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